3 Poemas de Raissa Amorim Com Breve Análise
Raissa Amorim é, além de resenhista, autora e música, poetisa. O lado poetisa precisa ser mais conhecido aqui no blog, então, para isso, trago 3 poemas e uma breve análise do eu lírico de cada um.
Vamos lembrar que a leitura de poemas traz benefícios ao cérebro e à alma. É imprescindível e insubstituível.
1- Depois dos Fenômenos
Quando a brisa
Fria passar,
Hei de cantar
Alegremente
Sobre ser
Uma sobrevivente
Da tempestade.
Mas enquanto
Isso é
Só um sonho,
Complica-se o canto.
Quando as árvores
Não forem mais
Abaladas pelos ventos,
Correrei pelos bosques,
De bem com
As lembranças
Dos fenômenos.
Mas enquanto
Houver raios,
Conter-me-ei,
A fim de que
Os clarões
Não me atinjam,
Mas iluminem
As escuridões.
Hei de aproveitar
O som natural
Do sabiá.
E quando
Minha força acabar,
Porei-me em repouso,
Numa rede tranquila,
Para que finalmente
Eu encontre o descanso.
Análise:
Este poema revela um eu lírico em temporada de frio e tempestades, com certo medo de raios, como podemos perceber na 4a estrofe:
"Mas enquanto
Houver raios,
Conter-me-ei,
A fim de que
Os clarões
Não me atinjam,
Mas iluminem
As escuridões".
O poema segue com a esperança do eu lírico de voltar à sua vida normalmente, no campo, nos bosques de árvores, escutando pássaros enquanto trabalha e, ao cansar, poder deitar-se numa rede para renovar suas energias, tendo somente lembranças dos fenômenos, que haveriam de passar.
2- Quando Me Ouvires
Quando me ouvires
Falar coisas
Do coração,
Saibas que és
Para mim especial.
Quando ouvires
Os meus batuques,
Tocados sem reservas,
Saibas que em mim
Tens um lugar
Especial só teu.
Quando me ouvires
Chorar sem controle,
Saibas que em
Ti confio
Para mostrar-te tal
Fragilidade.
Quando me ouvires
Declamar um poema,
Saibas que
Gosto de estar
Em tua companhia.
Análise:
Neste poema, o eu lírico fala de atitudes que revelam suas fragilidades para pessoas que têm um lugar especial em seu coração. Ele explica que quando uma pessoa ouve dele algo profundo, que vem do coração, é porque essa pessoa é especial. Ele não diria coisas profundas para qualquer pessoa porque sabe que a profundidade não é entendida por todo mundo. Este eu lírico também é, provavelmente, percussionista, porque ele fala sobre como fazer um "batuque sem reservas" na presença de alguém revela o quanto esse alguém é especial. O mesmo com quem o pode ver chorar. Para alguém ver isso precisa ter sua confiança. Ele finaliza dizendo que gosta de estar na companhia de quem escuta sem julgar suas declamações, apenas aceitando que isso faz parte dele.
3- Em Nome do Amor.
Você pode acreditar
Que iremos sumir;
Que iremos subir;
Que iremos ressurgir
Ou que iremos mudar.
Você pode crer
Que o mundo vai acabar;
Que o mundo vai se transformar
Ou que o mundo vai continuar.
Você só não pode
Usar o nome do Amor
Para espalhar horror.
Porque o Amor acalma,
Não alarma.
O Amor alivia,
Não leva agonia.
Se você tem algema
Colocada pelo sistema
Em você,
Abra os olhos para ver
E se libertar,
Antes de querer libertar outrem.
Porque se tem alguém
Que sempre tem certeza
Que não vivemos na clareza,
É aquele alguém que está preso
Numa bolha
Deveras opressora
Que sempre aponta pro terror
Para continuar pregando desamor
Em nome do Amor.
Você pode ter
Qualquer crença,
Pode ter o seu segmento,
Mas você não pode,
Em nome do Amor,
Fazer o outro sentir dor.
Você pode acreditar no que for,
Mas você não pode,
Em nome do Amor,
Espalhar seu
Não resolvido rancor.
Ter fé é maravilhoso;
Ter crença é direito glorioso!
Você só não pode
Oprimir
Ou
Diminuir
Em nome do Amor.
Análise:
Para entender este poema, é preciso saber que ele foi escrito quando uma fala um tanto polêmica na época estava em evidência: num carnaval de Salvador, uma mulher atrapalhou a apresentação da cantora Ivete Sangalo, dizendo que todas as pessoas que estavam ali no carnaval deveriam se arrepender e se converter à sua religião porque, entre 5 a 10 anos, o mundo acabaria e coisas do tipo. Sabendo do contexto, observamos:
O eu lírico deste poema mostra-se extremamente respeitoso e aberto às várias possibilidades de crença –até mesmo às descrenças– mas apela para que não façam terror em nome do Amor. Se você crê no amor e em um Senhor que se baseia no Amor, ele não poderia espalhar o terror, o preconceito, a imposição infernal de ódio ou qualquer coisa semelhante a isso. Seria, no mínimo, contraditório, uma vez que esse Amor se diz ser maior que tudo e para todos. Em nome do Amor a gente costuma fazer o bem: incluir, abrigar, ajudar, apoiar, amparar, etc., não o contrário.
E aí, gostou de conhecer esses poemas? Raissa Amorim tem mais de 160 poemas autorais em modo gratuito no aplicativo Meu Poema, que é bem leve em questão de armazenamento. É basicamente uma rede social só de poemas. Vale muito a pena conhecer! Aproveita e segue @autora_raiy pra ler esse mar de versos gratuitos! Conta pra mim aqui nos comentários sua opinião sobre os poemas comentados que você conheceu hoje e até a próxima!
Raissa Amorim
Poetisa, resenhista, autora, música.
Contato: autoraraissaamorim@gmail.com
Insta: @autora_raiy.
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